Doença hereditária causa perda auditiva progressiva

Doença hereditária causa perda auditiva progressiva

Otosclerose pode prejudicar a condução do som ou atingir as células sensitivas. Em alguns casos a cirurgia pode resolver o problema.


Estimativas apontam que pelos menos 10% das pessoas na fase adulta apresentam algum sinal da otosclerose, doença relacionada com o processo de ossificação do ouvido que causa perda progressiva da audição. De acordo com Rita de Cássia Cassou Guimarães, otorrinolaringologista, otoneurologista e mestre em clínica cirúrgica pela UFPR, a otosclerose é genética e se manifesta enquanto a pessoa ainda é um adulto jovem.“A doença causa alteração no processo de ossificação e reabsorção do osso do labirinto, afetando a transmissão dos sons”, explica.

O ouvido é formado por três partes – o ouvido externo, médio e interno. No interno está localizado o osso mais duro do organismo, chamado de bloco labiríntico. É nesta região que a cóclea e o labirinto ficam situados dentro do ouvido. “Este osso é preenchido por um líquido e quando há alterações degenerativas o osso começa a ficar esponjoso, afetando tanto a condução dos sons quanto a parte sensitiva da audição. A doença inicia na proximidade entre o osso estribo e o bloco labiríntico, impossibilitando a vibração necessária para a condução do som”, esclarece.

Quando as alterações causadas pela otosclerose ocorrem próximo ao estribo os movimentos são fixados, impedindo a vibração, ou seja, prejudicando a condução dos sons externos. “O som é uma vibração que se propaga pelas moléculas presentes no ar. Para que o ruído chegue aos ouvidos é preciso que haja a vibração do som externo, que será transmitida para a orelha interna por meio da vibração dos ossículos do ouvido em direção aos líquidos do labirinto. Por isso quando a vibração óssea é interrompida, como no caso da otosclerose, a condução do som também se encerra. Essa degeneração é responsável por um tipo de surdez chamada de condução e com o agravamento da doença ocorre a degeneração óssea labiríntica com surdez mista, ou seja, de condução e sensorial por causa da lesão das células auditivas”, observa.

Nos consultórios as principais queixas que tem como diagnóstico a otosclerose estão relacionadas com a perda de audição. Outra reclamação comum entre os pacientes é o zumbido, que pode ou não estar acompanhado de problemas na audição. “A perda pode ser parcial ou total. Em alguns casos a evolução do problema tende a ser rápida e a pessoa pode perder a audição ainda em idade jovem, já que a doença normalmente surge entre os 18 e 30 anos. São raros os casos em que algum indivíduo com mais de 40 anos tenha otosclerose”, destaca.

A doença pode atingir apenas um ouvido ou os dois, sendo que a chamada otosclerose bilateral é responsável por 40% dos casos e a unilateral corresponde a 60%. Quando os dois ouvidos sofrem com o problema um é sempre mais prejudicado do que o outro. “A principal causa da otosclerose é genética. Ela é mais comum em pessoas brancas, sem haver uma explicação científica para isso. A incidência da doença é maior na Europa do que no Brasil, mesmo assim há vários casos aqui”, acrescenta.

Não existe nenhum meio de prevenir a doença e quem tem otosclerose deve ficar atento as queixas dos filhos com relação à audição e até fazer exames periódicos, facilitando o diagnóstico. “Há duas opções de tratamento, o uso do aparelho auditivo e a cirurgia. Como a doença se manifesta ainda na juventude, a maioria dos pacientes se sente incomodada com a perda auditiva e procura o médico para diagnóstico e tratamento. O aparelho auditivo compensa a perda auditiva com resultados muito bons em relação à audição, o entendimento dos sons da fala e o zumbido. A intervenção cirúrgica tem bons resultados, mas não pode ser indicada para todos os casos. A cirurgia só é recomendada quando a perda de audição é condutiva, alteração identificada na maioria dos casos”, ressalta.

Durante a cirurgia é feita a substituição do osso estribo afetado por uma prótese, possibilitando a vibração do som e a volta da audição. Mas a escolha pelo procedimento não é tão fácil, já que requer um cirurgião experiente em cirurgias de ouvido para evitar a lesão do ouvido interno com risco de perda auditiva total e irreversível. “Outro detalhe é que o tipo de material da prótese pode influenciar os resultados. Após a cirurgia há algumas limitações. Não é possível fazer mergulho submarino profundo por causa da pressão, por exemplo”, finaliza a especialista, coordenadora do Grupo de Apoio a Pessoas com Zumbido de Curitiba (GAPZ).