Chupar chupeta pode deformar ossos da face


Hábito pode ser - se mantido além do tempo normal -  responsável pelas alterações nos dentes, arcadas dentárias e na musculatura facial e prejudica desenvolvimento infantil.

Os pais, especialmente os de primeira viagem, não suportam ver seu bebê chorando sem parar. Embalos, carinhos e palavras doces às vezes não são o suficiente para acabar com o chororô e a chupeta ou a mamadeira são vistas como uma das alternativas mais eficazes para acalmar a criança. “O ato de sugar estes acessórios, assim como o bico do seio da mãe ou o dedo, está associado à necessidade de satisfação afetiva, de segurança e de sucção da fase oral”, explica o ortodontista e ortopedista facial Gerson Köhler, integrante da equipe interdisciplinar da Köhler Ortofacial.
A fase oral é descrita como a época em que a criança descobre o mundo por meio da boca. Ela  começa - já havendo um treinamento" intra-útero -  no nascimento do bebê e dura até os dois anos. Nesta fase, todo o desenvolvimento está voltado para a região oral, por isso o seio da mãe funciona também como um conforto emocional, sensação que também pode ser obtida com a chupeta. “O objeto deve ser usado ocasionalmente e o hábito deve ser removido, de maneira gradual, até no máximo dois anos de idade. Mesmo com uso regulado, a criança corre  riscos de sofrer com os malefícios de chupar chupeta”, observa a fonoaudióloga mioterapeuta orofacial Nilse Köhler.
Alterações na arcada dentária, mastigação, deglutição, respiração, fala, articulações, músculos da face e deformações nos ossos do rosto são alguns dos problemas relacionados ao uso da chupeta, da mamadeira e do hábito de chupar os dedos. “Os efeitos danosos dependem da frequência, duração e da intensidade destes hábitos. O desenvolvimento bucal pode ficar comprometido. A criança pode apresentar respiração bucal, má-oclusão dentária, posicionamento incorreto da língua e enfraquecimento da musculatura facial, o que por sua vez aumenta os riscos de distúrbios do sono e outras patologias”, alerta.
As funções realizadas com a boca, como a comunicação verbal, a respiração e a alimentação também são prejudicadas. Bebês que ficam muito tempo com a chupeta na boca se expressam menos, já que o choro é considerado um dos diversos fatores que estimula o desenvolvimento da linguagem. Além disso, se a língua estiver posicionada inadequadamente, a criança tem dificuldade para articular as palavras e os sons produzidos são distorcidos e de difícil compreensão. “As deformidades na musculatura e nos ossos da face podem afetar a passagem do ar, provocando mudanças na forma de respirar”, explica o professor Gerson Köhler.
As alterações nas arcadas dentárias e nas posições dos dentes dificultam a mastigação e a deglutição. Sem triturar direito os alimentos, o indivíduo não se sente saciado e come mais do que deveria, favorecendo o excesso de peso e o surgimento de doenças ligadas à obesidade. “Os estímulos relativos à saciedade demoram cerca de 20 minutos para chegar até o cérebro. Quanto mais a comida for mastigada, mais saciada a criança se sentirá e a absorção de nutrientes será mais efetiva. Uma boa alimentação também depende da maneira como a mastigação é feita”, esclarece.
Outro problema causado pela chupeta é o desmame natural precoce. Ao chupar o objeto, o bebê se acostuma com uma forma diferente de sucção, que não é nutritiva e exige outro posicionamento da língua. No momento de mamar no peito, ele sentirá mais dificuldade para sugar o leite e se alimentará menos. “A mamadeira também pode incentivar o uso de chupeta, pois não exige esforço muscular para a sucção. A criança satisfaz a sua necessidade de alimento, mas não a de sucção. É sempre bom lembrar que a amamentação materna é fundamental para a saúde geral dos bebês”, enfatiza Juarez Köhler, também especialista da equipe clínica.
Gerson ressalta que chupar os dedos pode ser ainda mais danoso do que a chupeta. Os dedos estão sempre disponíveis e exercem força contra os dentes, ocasionando defeitos na formação da arcada dentária superior (situada no osso maxilar) e projetando os dentes superiores. “Assim que as alterações forem percebidas é necessário fazer o acompanhamento com um ortodontista pediátrico ou ortopedista facial. As consultas podem ter início a partir dos três ou quatro anos de idade ou mesmo antes, se necessário. O tratamento precoce minimiza os malefícios à saúde e é capaz de redirecionar o crescimento incorreto dos dentes, das arcadas dentárias e dos ossos da face”, acrescenta.

Gerson Köhler (CRO 3921 – PR)
Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial
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