Radiografia panorâmica facial pode revelar calcificação na base do crânio


Exame panorâmico solicitado por profissionais da odontologia é útil no diagnóstico de síndrome que causa dores cervicais e faciais.

Dores na região cervical e na face, com ou sem reflexos nos ouvidos, sensação de corpo estranho na garganta, dor de cabeça e vertigens são alguns dos sintomas da chamada Síndrome de Eagle. Descrita em 1937, pelo otorrinolaringologista Watt W. Eagle, a doença está relacionada com a calcificação do ligamento estilo-hióideo, localizado na base do crânio. Foi descrita como possível geradora de dor contínua na faringe, com piora durante a deglutição, podendo estar associada à otalgia (dor de ouvido) reflexa, aumento da salivação e sensação de corpo estranho na faringe. “A calcificação é um processo de depósito de cálcio em articulações, artérias e outros tecidos, endurecendo-os e causando diversos desconfortos e agravos a saúde”, explica o ortodontista e ortopedista facial Gerson Köhler.
Quando um ligamento está calcificado e é forçado contra estruturas próximas há o desencadeamento de sensações dolorosas. O paciente - no caso da calicificação dos ligamentos estilo-hioídeos - sente dor ao movimentar a cabeça e o pescoço e limita a amplitude dos movimentos. “Os pacientes também se queixam de dores na garganta, dificuldades para falar ou engolir e perturbações visuais. As dores no rosto podem ser confundidas com sintomas de disfuncionalidade temporomandibular (DTM), por isso é fundamental que o profissional faça o diagnóstico correto”, aponta o especialista, integrante da equipe interdisciplinar da Köhler Ortofacial e docente convidado do curso de pós-graduação (Ortodontia e Ortopedia Facial) da Universidade Federal do Paraná desde 1988.
A incidência da Síndrome de Eagle (na qual os ligamentos estilo-hioídeos sofrem progressiva calcificação) é maior em mulheres com mais de 30 anos, principalmente as que estão na quarta década de vida. A patologia pode afetar um (unilateral) ou os dois lados (bilateral) do ligamento. De acordo com estudos científicos, a enfermidade pode afetar entre 4% e 28% da população, sendo, que deste grupo, no máximo 10% apresentam sintomas. “Muitos casos são assintomáticos e os pacientes acabam ficando sem diagnóstico. Além disso, o problema passa despercebido em muitas investigações de dores cranio-cérvico-faciais”, observa.
As causas da síndrome ainda são desconhecidas, mas especialistas apontam que a alteração pode estar relacionada com alterações congênitas pela persistência da cartilagem ou com crescimento ósseo anormal. “O exame físico, com palpação da região, pode dar os primeiros sinais da patologia, mas a suspeita só é confirmada com exames de imagem do rosto em variadas posições, especialmente de perfil”, afirma Juarez Köhler, especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial que também faz parte da equipe interdisciplinar da Köhler Ortofacial.
Juarez comenta que é possível visualizar nas imagens radiográficas ou de tomografias computadorizadas o ligamento com um aspecto alongado, pseudoarticulado ou segmentado em pacientes com a Síndrome de Eagle. “A radiografia panorâmica é considerado um exame simples e eficaz para este tipo de diagnóstico. A tomografia também é essencial e complementa a análise, pois permite a aquisição de imagens em diferentes planos, a reconstrução tridimensional e multiplanar e mostra as estruturas ósseas, os componentes calcificados e as suas relações”, esclarece.
O professor Gerson destaca que a calcificação que ocorre no ligamento pode ser facilmente visualizada nos exames de imagem, porém, os profissionais da saúde, muitas vezes por falta de experiência em seu diagnóstico, podem não se alertar para o problema presente. A radiografia panorâmica é um exame simples, solicitado rotineiramente (entre outros) para a realização de tratamentos ortodônticos e ortopédico-faciais e que pode contribuir de maneira significante para a descoberta da síndrome. Este é um assunto muito interessante e que venho estudando há mais de 20 anos. Em nossa atividade clínica diagnóstica, quando a calcificação está presente nunca passa despercebida e é relacionada aos sintomas apresentados pelo paciente”, acrescenta o especialista, professor convidado da pós-graduação de Odontologia da Universidade Federal do Paraná desde 1988. Adionalmente informa que esta doença (a calcificação dos ligamentos estilo-hioídeos) deve ser - sempre - considerada em pacientes com sintomas de disfagia, odinofagia (deglutição dolorida) , dor facial, otalgia, cefaléia, disfunção de ATM, zumbido e trismo facial.

Doutor Gerson Köhler (CRO 3921 – PR)
Especialista em Ortodontia e Ortopedia Facial
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