Mal do movimento pode ser tratado


Não ler, sentar próximo as janelas e olhar para o horizonte são recomendações para evitar os sintomas da cinetose.

Viajar de carro, ônibus, avião ou barco pode ser excitante para algumas pessoas – ou dar enjoo em outras. As náuseas causadas pelo movimento atingem mais de 70% das crianças com idade superior a dois anos, mas também pode se manifestar em adultos, principalmente nas mulheres e é mais frequente no período menstrual e na gravidez. “A náusea e o enjoo podem sinalizar a presença da cinetose. A doença pode surgir quando a pessoa está em qualquer meio de transporte em movimento”, explica a otorrinolaringologista Rita de Cássia Cassou Guimarães.
Também conhecida como a doença ou mal do movimento, a cinetose é uma labirintopatia que está relacionada à enxaqueca na fase adulta. Os sintomas surgem quando o corpo está parado e o ambiente está se movimentando ou o inverso. Isto gera um conflito de informações no sistema vestibular, responsável pelo equilíbrio corporal. “Quando a cinetose é percebida na infância e na adolescência há mais riscos de haver crises de enxaqueca quando o indivíduo ficar mais velho. A cinetose tem a tendência de desaparecer com o tempo, sendo que os idosos são os que menos sofrem com o problema”, ressalta.
Sudorese, vertigem, visão fora do foco, palidez, sonolência, dores de cabeça, fadiga, perda do equilíbrio e da noção de profundidade e dificuldades para ler e assistir televisão são outros sintomas relacionados a esta patologia. Segundo Rita, as crises podem ser desencadeadas em atividades que exijam movimento ou por filmes, jogos e programas televisivos que tenham excesso de cores brilhantes, alterações de foco e movimentos, como os jogos eletrônicos de terceira dimensão. “A movimentação provoca estímulos exagerados no labirinto, causando os sintomas”, observa.
Os indícios da cinetose podem surgir durante a atividade que desencadeou o problema ou algumas horas depois, sendo que a sua continuidade pode intensificar os sintomas. Rita aponta que o equilíbrio depende da interação entre os sistemas visual, vestibular e proprioceptivo. Se houver alguma alteração nestes sistemas o distúrbio do movimento aparece. “Com a movimentação da cabeça o líquido que preenche o vestíbulo se desloca, causando o desvio dos cílios do órgão e gerando impulsos elétricos que são enviados até o cérebro. O conflito das informações vestibulares, visuais e dos sensores de movimento dos músculos e articulações provoca os sintomas da cinetose”, destaca a médica.
O diagnóstico deve ser feito por um otorrinolaringologista e o ideal é que a ajuda médica seja procurada assim que ocorrer a primeira crise. O tratamento é feito com base na prevenção dos sintomas e em exercícios de terapia de reabilitação vestibular. “A vídeonistagmografia é um sistema de análise computadorizada do nistagmo através de vídeo e que ajuda a diagnosticar a cinetose. O exame é rápido, os cálculos são feitos automaticamente e é possível identificar sinais de disfunção vestibular periférica ou central e determinar o lado da lesão”, acrescenta.
Rita ainda cita algumas atitudes e comportamentos que contribuem na prevenção do distúrbio. Sentar sempre próximo as janelas, mantê-las abertas, olhar para lugares distantes da paisagem, não comer alimentos pesados antes de viajar, não sentar em bancos traseiros ou de costas para frente do veículo e evitar a prática de atividades físicas em esteiras ou bicicletas ergométricas são as recomendações mais comuns. “Também é fundamental evitar ficar olhando para os lados durante o movimento e não ler e nem usar aparelhos eletrônicos”, orienta a especialista.
A alimentação é essencial para não passar mal durante as viagens. Não é recomendado ficar em jejum e as refeições devem ser feitas de três em três horas. Doces, café, bebidas gasosas e  alcoólicas e alimentos gordurosos devem ser evitados. “A ingestão de água ajuda a hidratar o corpo, mantendo suas funções equilibradas. Cheiros fortes aumentam as chances de enjoo, por isso é melhor ficar longe de motores, escapamentos, fumantes e não usar perfumes fortes”, finaliza Rita, responsável pelo Setor de Otoneurologia da Unidade Funcional de Otorrinolaringologia do Hospital de Clínicas da UFPR.

Dra. Rita de Cássia Cassou Guimarães (CRM 9009)
Otorrinolaringologista, otoneurologista, mestre em clínica cirúrgica pela UFPR
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