De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) mais de 15 milhões de pessoas tem problemas de audição no Brasil. Destes aproximadamente 60% não reconhecem que sofrem com deficiência auditiva. “Estimativas indicam que quem é afetado por dificuldades auditivas demora em média seis anos para procurar algum tipo de ajuda e isso é prejudicial a saúde dos ouvidos”, ressalta a otorrinolaringologista e otoneurologista Rita de Cássia Cassou Guimarães, coordenadora do Grupo de Apoio a Pessoas com Zumbido de Curitiba (GAPZ).
O tempo longo para tomar alguma providência é associado a falta de informação, preconceito, medo e até desleixo com a saúde. Rita esclarece que muita gente sente que tem algo errado com a audição, que está falando mais alto e ouvindo menos, e mesmo assim não vai ao médico. “O indivíduo procura ajuda médica quando sente alguma dor ou quando a situação já está avançada. Antes disso fica naquela: quando der um tempo eu vou, ainda estou ouvindo bem. Esta cultura tem que mudar”, alerta.
Quanto mais rápido for feito um tratamento para auxiliar a audição melhores são os resultados. Os ouvidos necessitam de estímulos constantes e a falta de sons faz com que o cérebro perca com o tempo a capacidade de reconhecer os sons, inclusive a fala. “Por isso o uso do aparelho auditivo nos casos indicados é fundamental. No período de adaptação é preciso paciência, pois os ouvidos terão que reaprender a ouvir e o cérebro a compreender os sons. O especialista faz ajustes no aparelho para que não haja desconforto sonoro”, observa.
O uso do aparelho é indicado também para crianças que sofreram perda auditiva. Cada caso deve ser avaliado conforme o grau e o tipo da perda para que o melhor tratamento seja indicado. “Na infância a utilização do aparelho adequado é essencial, especialmente porque é nesse período que a linguagem, a fala e a cognição estão sendo desenvolvidos. Além disso, as crianças que não ouvem bem podem apresentar dificuldades no aprendizado”, destaca Rita, responsável pelo Setor de Otoneurologia da Unidade Funcional de Otorrinolaringologia do Hospital de Clínicas da UFPR.
A especialista enfatiza que o aparelho contribui para a socialização da criança na sociedade, na escola e na família. O tratamento precoce, a escolha do equipamento correto e o ajuste adequado garantem uma vida normal aos pequenos que tem possibilidade de melhorar a sua audição. “Os avanços tecnológicos permitiram a confecção de aparelhos mais eficientes, modernos e atraentes. Sem contar que estão muito mais resistentes do que antigamente. Alguns modelos possuem resistência à água e outros já entraram na onda da tecnologia Bluetooth, que permite a interação com outros equipamentos eletrônicos portáteis, como o celular”, aponta.
Para obter os benefícios do aparelho na infância a família deve dar todo o suporte necessário. A escola também tem o seu papel e deve ajudar na integração deste aluno. As brincadeiras de mau gosto e o preconceito podem tornar a vida escolar um sacrifício. “Por isso é importante que os professores atuem efetivamente na inclusão dos estudantes com deficiência auditiva ou qualquer outro tipo de problema. Mostrar para a turma que cada um é diferente, que todos devem conviver em harmonia e incentivar os outros alunos a contribuir com o colega que tem alguma dificuldade são algumas maneiras de promover a inclusão”, acrescenta.
Dra. Rita de Cássia Cassou Guimarães (CRM 9009)
Otorrinolaringologista, otoneurologista, mestre em clínica cirúrgica pela UFPR
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