Silicone industrial deforma o corpo e pode levar a morte


A substância usada na limpeza de carros e impermeabilização de azulejos é aplicada de maneira ilegal em homens e mulheres.

O implante de silicone é uma das cirurgias plásticas mais realizadas no Brasil. A prótese pode ser colocada nos seios, glúteos, coxas e até nas panturrilhas para aumentar o volume da região. A recomendação da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica é que o procedimento seja realizado por profissionais habilitados e em clínicas e hospitais que possuam a estrutura necessária para atender o paciente. “Mesmo com a popularização das cirurgias estéticas, muitos homens e mulheres ainda recorrem ao uso do silicone industrial ou líquido, um perigo à saúde”, afirma o cirurgião plástico Alderson Luiz Pacheco.
O uso do silicone industrial para aplicação no organismo teve início na década de 70, principalmente por travestis, que buscavam formas corporais mais femininas para se sentirem aceitos no grupo ou aumentarem o rendimento com a prostituição. “As mulheres também aderiram à prática, que é clandestina e extremamente rejeitada pelos médicos e profissionais da área. O siliconoma, uma espécie de tumor causado pela reação do corpo a aplicação do produto é apenas um dos diversos malefícios que o silicone industrial pode provocar no organismo”, ressalta.
Necrose dos tecidos, embolia, reações alérgicas, dificuldades para andar, deformidades e morte por infecção generalizada são algumas das consequências da aplicação de silicone industrial. Usada para aumentar e dar contorno aos seios, bumbum, pernas, bochechas e boca, a substância é aplicada por pessoas sem conhecimento técnico, as chamadas ‘bombadeiras’, com materiais de origem duvidosa e em locais sem a menor estrutura. “Isto aumenta o risco de infecções e contaminação. Se o produto entrar na corrente sanguínea, ele provoca septicemia e o indivíduo morre logo após a aplicação”, alerta.
O silicone industrial tende a se movimentar por causa da ação da gravidade. Se for aplicado no rosto, por exemplo, pode descer para o pescoço. Nos seios, a substância pode ir para a barriga e nos glúteos o líquido desde para as pernas e os pés. Estas são sequelas que não podem ser disfarçadas. “Sem contar a dor física durante o procedimento. Pacientes relatam que quando o silicone ilegal entra em contato com a pele e os tecidos, a sensação é que está sendo colocada água quente dentro do corpo, que entra rasgando para encontrar espaço entre os tecidos”, conta.
As vítimas do silicone industrial sofrem danos físicos e psicológicos. A frustração de buscar um corpo perfeito e ter resultados que comprometem a saúde, a estética e a qualidade vida aumenta o pesadelo. A situação fica ainda pior quando não há como reverter às sequelas do silicone industrial. “Em alguns casos é possível retirar a substância com lipoaspiração, mas em outros é necessário remover partes do tecido, já que o produto químico se espalha pelo corpo e adere à região muscular. A cirurgia radical pode deixar o corpo ainda mais defeituoso, mas às vezes é a única alternativa”, explica.
As diferenças entre o silicone ilegal e as próteses tradicionais é o produto utilizado e a forma de aplicação. O industrial tem como finalidade a limpeza de carros e peças de avião, impermeabilização de azulejos e a lustração de painéis automotivos. “Ele é aplicado por meio de seringas usadas em animais, principalmente para equinos. O uso de silicone líquido para fins médicos é proibida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério da Saúde. O produto sempre irá causar problemas no corpo e não deve ser utilizado em hipótese alguma”, avisa.
Pacheco enfatiza que o uso do silicone industrial continua devido aos preços mais baixos comparados a uma cirurgia plástica. Mas o baixo custo monetário não compensa os riscos e os danos causados à saúde. “Normalmente, as pessoas que colocam o silicone ilegal no corpo só buscam ajuda quando estão com dores e deformidades. Mas quem se submeteu a este tipo de aplicação, deve procurar um médico imediatamente, pois somente ele poderá intervir se houverem complicações. Somente um profissional qualificado saberá avaliar a gravidade de cada caso”, finaliza.
 
Doutor Alderson Luiz Pacheco (CRM-Pr 15715)
Cirurgião Plástico
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